Fissuras em edifícios de São Paulo:
Descaso ou ineficiência de estudos sobre o solo?
Saiba um pouco mais sobre os erros comuns e evidentes em obras por todo o país
É frequente aparecer nos noticiários tragédias e erros grosseiros em obras e projetos de engenharia por todo o país. Não foi diferente em São Paulo, que teve dois edifícios do conjunto comercial Lex Offices, na Barra Funda, abalados e esvaziados às pressas no último dia 1 de outubro de 2012, decorrente a fissuras após o início de obras em um local vizinho. Os dois prédios também estavam com “afundamentos” após o início de uma obra em frente ao local.
Segundo a Segundo a Defesa Civil, cada uma das torres de 16 andares do prédio, que tem 192 apartamentos (a maioria das salas são de escritórios de advocacia), uma praça de alimentação em uma área em comum e cinco subsolos usados como estacionamento, corriam risco de acidentes decorrentes às fissuras apresentadas no primeiro momento. Para averiguar os problemas e possíveis soluções, um engenheiro da Subprefeitura da Lapa foi chamado ao local para fazer um laudo sobre o que teria causado o problema estrutural. A Defesa Civil organizou a entrada das pessoas que trabalham no local para buscarem seus pertences.
Liberação dos imóveis:
Felizmente os edifícios foram liberados após cinco dias de interdição e com a apresentação de laudos que comprovam a segurança estrutural do local. Porém, a Subprefeitura da Lapa multou a empresa Brookfield Incorporações em R$ 10 mil por remover terra sem autorização em uma obra da rua do Bosque, em frente ao condomínio Lex Offices. No local, está sendo construído o conjunto Marquês Business Center. A obra pode ter sido a responsável pelos tremores e rachaduras nas torres do conjunto comercial.
Outro caso semelhante:
Outro caso aconteceu no dia 13 de setembro, quando a Defesa Civil interditou o edifício Ivany na Vila Olímpia, zona oeste de São Paulo. Na ocasião, o coordenador da Defesa Civil Municipal, Jair Paca de Lima, disse que “três colunas do prédio estavam sobrecarregadas” e as obras emergenciais deveriam demorar entre oito e dez dias para iniciar. Porém, o local continua interditado por segurança. Os moradores puderam apenas retirar roupas e documentos de suas casas. Todos os gastos com hotéis, refeições e lavanderia estão sendo custeado pelo Hospital São Luiz, responsável pelas obras no local.
Opinião de um Especialista:
Para Mauro Hernandez Lozano, Engenheiro Civil especializado em Geotécnica, da Dýnamis Engenharia Geotécnica, diz que a maioria dos erros vistos em obras gerais em engenharia são decorrentes, especificamente, no atendimento das normas técnicas e das boas práticas de Engenharia Civil Geotécnica. Além do rebaixamento impróprio dos lençóis freáticos para a criação de subsolos e outras funcionalidades. Em outras palavras, ele diz que no meio do caminho algo foi deixado de lado e ou feito sem a qualidade devida para que a segurança e o respaldo sejam a contento do projeto inicial.
Para saber um pouco mais, acompanhe a entrevista com Lozano:
Por que e quando é necessária a execução de Escavação em construções?
A escavação é freqüente nas obras de engenharia, especialmente em projetos que envolvem a construção de edifícios e subsolos para garagens e ou outros fins de acordo com o perfil do empreendimento. Com isso, é necessário rebaixar os lençóis freáticos para se criar níveis abaixo a dimensão da altura natural. No caso de residências, por exemplo, em um terreno em declínio é necessário fazer os patamares (ajustamentos) para a implantação da casa, no qual faz parte do processo de Terraplenagem e Aterro.
Outra coisa comum que percebemos em obras de engenharia são as rachaduras nos vizinhos, comuns em pequenos, médios e grandes portes. Por ocorrem essas fissuras.
As rachaduras são comuns quando há falta de estabilidade e ou pelo recalques provenientes do rebaixamento do lençol freático, que tem sido muito frequente ultimamente. Ou melhor, tem sido objeto de frequentes demandas públicas e ou judiciárias. Recordo-me que nos meus primeiros anos como formado, lá pelos fins da década de 70, esses fatos já eram presentes como objeto de atenção e quantificação em projetos de geotecnia para obras sanitárias de escavação de valas.
Então por que tais erros ainda, atualmente, têm gerado tantas controvérsias para a sociedade?
O fato a meu ver, é que não se tem dado à devida atenção a este problema, talvez devido às dificuldades de um diagnóstico geotécnico adequado. E, é fato que existem dificuldades, entretanto elas são socialmente inerentes à responsabilidade dos profissionais responsáveis. Ou seja, para verificar a existência da possibilidade de recalques provenientes do rebaixamento do lençol freático, o engenheiro civil geotécnico deve inicialmente conhecer as diferentes camadas, espessuras, distribuição e comportamento dos diversos solos afetados pelo provável ou possível rebaixamento do lençol freático.
Após o procedimento de identificação do erro, o que deve ser feito?
Antes de qualquer progresso de escavações, rebaixamento do lençol freático ou obras em geral, é importante que os profissionais envolvidos realizem sondagem na região do entorno da futura escavação, ou seja, na área a ser afetada por tal rebaixamento, a qual se pode denominar a área ou raio de influência, ou também, o cone de depressão do lençol freático. Assim, o engenheiro geotécnico pode estimar as diferentes camadas existentes sob a influência da depressão do lençol freático e estimar a variação de pressão de água nos vazios dos solos.
Quais são os problemas mais comuns percebidos por você?
Vejo dois grandes problemas que raramente são analisados em projetos de obras de escavação urbanas, ou melhor, em obras de subsolos de prédios. Primeiro, existe uma cultura da não aplicação de técnicas já conhecidas, levando ao desconhecimento (ignorado) destas tecnologias. Pode-se também entender que tais problemas ocorram devido às dificuldades de executar as sondagens fora do local da obra, pois o costume, cultura, ou inadequação do que se faz é realizar as investigações apenas no terreno objeto da obra, não se fazendo sondagens nos vizinhos e ou nas ruas próximas.
A falta de investigações em solos vizinhos pode ser um agravante?
A falta de investigação dos solos vizinhos é um fator de risco. A precariedade, se assim posso dizer, afeta também os projetos de contenções, projetando-se o conhecimento das camadas dos solos da área da obra para fora dela, o que se sabe não ser uma realidade. Esta precariedade se justifica pela impossibilidade de fazer sondagens fora da área da obra, o que deveria ser comum para investigar melhor a região do entorno da obra de escavação, quando os efeitos do rebaixamento do lençol freático forem passíveis de ocorrência.
Além do rebaixamento dos solos freáticos, existem outros fatores de risco?
Existem diversos. O outro grande problema está na estimativa da pressão de água nos vazios dos solos que é obtida a partir da rede de fluxo formada pela percolação de água no subsolo proveniente a existência de um lençol freático e da escavação a ser executada. Esta demanda (rede de fluxo) esta atrelada à determinação do comportamento dos solos, em face da percolação de água. Sendo mais especifico, o engenheiro civil geotécnico deve programar ensaios de permeabilidade dos solos ao longo das camadas existentes nos subsolos. Estes ensaios podem ser feitos, em furos de sondagem ou através da obtenção de amostras indeformadas dos solos e a realização de ensaios de laboratório. Também se deve destacar que a depressão do lençol freático depende do tempo de rebaixamento ou bombeamento, utilizado para propiciar a escavação dos subsolos, esteja em funcionamento.
Quais as suas considerações finais?
O que eu gostaria de dizer é que estas circunstâncias devem ser consideradas no projeto de rebaixamento do lençol freático, raras vezes efetuado pelos responsáveis. Em outras palavras deseja-se esclarecer que a quantidade de água retirada do subsolo, que não é reposta pelo homem ou pela natureza (infiltração das águas de chuvas), criará um déficit hídrico deprimindo o lençol freático, tendo como conseqüência o aumento da predisposição para o efeito de recalques.
Sobre Mauro Hernandez Lozano é engenheiro civil, formado pela Universidade Mackenzie, 1977, com cursos de Pós-Graduação e Extensão (EPUSP, 1978/1980) na área de Mecânica dos Solos, Obras de Terra e Fundações. É especializado em Geotecnia e Fundador da Dýnamis Engenharia Geotécnica. Também, é Ex-Diretor-Técnico e Vice-Presidente, em duas gestões, do Instituto de Desenvolvimento Urbano (IDU); da Associação Brasileira de Empresas de Projeto e Consultoria em Engenharia Geotécnica (ABEG); Professor de Geotecnia durante 25 anos na Universidade Mackenzie; e Consultor Técnico do Ministério Público (MP).
Sobre a Dýnamis Engenharia Geotécnica: A Dýnamis Engenharia Geotécnica é uma empresa de Projetos e Consultoria em Engenharia Civil, especializada em Geotécnica, única no país com dois laboratórios para estudos do solo, atuante há mais de 20 anos no mercado e com 1300 contratos já concluídos. Fundada e com a administração de Mauro Hernandez Lozano – um dos maiores especialistas em Geotecnia no Brasil –, possui diferenciais importantes para garantir resultados acima do esperado e com garantia de satisfação plena para todos os tipos e portes de projetos. Dispõe de Laboratório de Solos para qualquer investigação geotécnica e equipe técnica especializada no acompanhamento e controle de qualidade dos serviços de campo evitando o desperdício de tempo e dinheiro para a sua empresa. A empresa é capacitada a oferecer tecnologia de ponta associada às experiências da vanguarda com soluções rápidas, criativas, eficientes, seguras e econômicas.
Texto e Layout: Adriana Teixeira